quarta-feira, 22 de junho de 2011

AFRICA (DES)CONHECIDA



PRECONCEITO

 

Grosso modo, prevalecem os estereótipos de que se trata de um lugar assolado pelas guerras tribais, devastado pela fome e miséria. Mais recentemente, sobretudo nos últimos quinze anos, outro componente dramático passou a fazer parte de nosso imaginário a respeito do continente negro, qual seja o de um lugar tomado pela AIDS. As imagens da Etiópia nos anos 80, e da Somália, nos anos 90, reforçaram o estigma de que este é um continente que não vale a pena, em virtude de sua “inviabilidade histórica”.

O continente africano, no entanto, não é apenas o lugar da miséria. Por mais que em nossas cabeças predomine, grosso modo, os estereótipos de que a África seja “um lugar povoado por africanos”, em que todos são excelentes percussionistas e selvagens, há que se ressaltar a extrema diversidade reinante nestas paragens. Não há nada que se possa afirmar como universal na África. Lá estão os indivíduos mais altos do planeta (os dinkas) e também os mais baixos (os pigmeus).



DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA


 

A respeito da diversidade lingüística, existem na África diversas línguas e dialetos, sendo os mesmos divididos em seis grandes grupos: o Níger-kordofaniano, que é subdividido em dois troncos (o Níger-congo e o Kordofaniano) e estes, por sua vez, dotados de subdivisões internas que agrupam diversos ramos lingüísticos (o Nígercongo possui os seguintes ramos: Atlântico Oeste, Mande, Voltaico, Kwa, Benue-congo, e Adamawa-Oriental, enquanto o Kordofaniano possui o Koalib, Tegali, Talodi,Tumtum e Katla); o Nilo-saariano, que possui aproximadamente nove ramos lingüísticos diferentes (Songai, Saariana, Maban, Fur, Sudanesa Oriental, Sudanesa Central, Berta, Kunama e Koman); a Afro-asiática, que possui seis subdivisões (Semítica, Egípcia, Berbere, Cusítica, Cádica e Omótica) e uma destas, a Cusítica, é dotada de aproximadamente quatro ramos diferentes (Bedja, Agaw, Cusítica E. e Cusítica S.), a Khoisan, que possui três subdivisões (Khoisan da África do Sul – que é também dotada de três ramos distintos: N. Khoisan, C. Khoisan e S. Khoisan –, Sandawe e Hatsa); o Indo-europeu, que foi introduzido no continente pelos colonizadores europeus, e o Malaio-polinésio, língua que foi trazida pelos colonizadores do sul da Ásia para Madagascar.



DIVERSIDADE RELIGIOSA



Além dessa imensa variedade lingüística, o continente africano também é dotado de uma grande diversidade religiosa, tanto no que diz respeito à existência das religiões, quanto às suas práticas e concepções. O pouco que conhecemos da África nesse aspecto, muitas vezes se restringe à religião dos Orixás, e é muito comum acharmos que “na África todos são grandes feiticeiros” ou que “todos são pagãos”, sem falar nas muitas visões estereotipadas de se afirmar a inexistência da fé em um Deus, “que todos os africanos são politeístas” ou coisa parecida.

Podemos dizer que, do ponto de vista filosófico, existem diferentes concepções religiosas na África. A idéia da ancestralidade e da relação direta com o antepassado é uma prática bastante difundida entre muitos povos, (sobretudo os do tronco Níger-congo) enquanto que, entre os iorubás da Nigéria, ocorre uma espécie de politeísmo que está baseado na elevação de algum antepassado à condição de divindade.

Os nuer e os masais (povos nilóticos do leste do Sudão) acreditam em uma divindade relacionada com o céu e a chuva, não conferindo aos antepassados um papel em especial. Entre alguns dos povos khoisan, existe a idéia de que a vida e as suas vicissitudes são reflexos de um dualismo existente no reino sobrenatural, sendo que o mesmo pode ser entre um Deus bom e um mal, ou entre um Deus bom contra vários espíritos malignos. Além das inúmeras concepções religiosas já citadas, há a presença de várias igrejas cristãs (algumas desde a Idade Média, como a Etíope) e do Islamismo, sendo este último muito forte na Região Norte e Nordeste do continente.

SISTEMAS POLÍTICOS





Tanto no que diz respeito aos sistemas políticos, como na organização das sociedades, há uma pluralidade em diversos níveis. No que tange às estruturas sociais existentes na África antes da chegada dos colonizadores europeus, podemos afirmar que estes encontraram diferentes sociedades organizadas sob muitas formas, bem como grandes reinos com administrações centralizadas e dotadas de intensas relações comerciais. Ainda hoje, coexistem na África sistemas políticos distintos, regimes patrilineares, matrilineares e sociedades com ou sem divisão de classes



INSTRUMENTOS MUSICAIS



No tocante aos instrumentos musicais, bem como à forma de se executar as músicas, também não é possível estabelecer uma homogeneidade para os diferentes povos africanos. A música polirrítmica e a dança acompanhada  de tambores constituem características dos povos pertencentes ao tronco cultural denominado de Níger-congo, apesar de que freqüentemente as mesmas são definidas como “genuinamente africanas”, a impressão que fica para nós, em termos gerais, é a de que na África prevalecem os instrumentos percussivos. Porém, há regiões da África em que outros estilos musicais são predominantes, como músicas feitas por cordas ou apenas com as vozes e o bater de palmas. A África possui, na Região Norte, uma forte presença dos instrumentos de cordas, fruto das culturas islamizadas e de outras tradições já existentes. Também encontramos a presença das cordas na África Central, em países como Burundi, Ruanda e talvez em outras partes do continente, devido às constantes trocas culturais existentes entre os povos. A presença das cordas, dos instrumentos de percussão e dos sopros pode nos indicar um pouco do quanto é representativa a diversidade musical do continente. Entretanto, podemos apontar que também existem grupos étnicos de povos caçadores-coletores que fazem suas músicas com vozes e palmas, sem dispor de instrumentos de nenhuma espécie que não sejam os sons proferidos a partir de seus corpos.

sábado, 18 de junho de 2011

BRASIL COLÔNIA: MOVIMENTOS NATIVISTAS

DEFINIÇÃO
  • Nativismo é o sentimento de apego (amor) a terra EM QUE NASCEU.
  • Os movimentos nativistas expressam o descontentamento dos colonos frente a problemas econômicos locais.
  • Estes movimentos, liberados pela aristocracia rural brasileira (proprietários de terras e escravos), classe dominante da Colônia, via seus lucros reduzidos pela intermediação dos comerciantes portugueses.
  • O sentimento nativista, no Nordeste desenvolveu-se em função das lutas contra os holandeses, para combater a política de "arrocho" após a saída de Nassau do Brasil; no Sudeste foi devido as lutas pela posse de minas.
  • As principais manifestações foram: Aclamação de Amador Bueno (1641); Revolta de Beckman (1684), Guerra dos Emboabas (1707-1709); Guerra dos Mascates (1710) e Revolta de Vila Rica (1720).


Aclamação de Amador Bueno (1641)

  • Ocorreu em São Paulo, região que se encontrava marginalizada dentro do sistema Colonial Português e onde existia grande número de espanhóis, devido a União Ibérica e a proximidade da região do Prata.
  • Em 1º de dezembro de 1640 deu-se a Restauração em Portugal sendo aclamado o Duque de Bragança que reinou com o nome de D. João IV, acabando o domínio espanhol.
  • Em 1641, chega a São Paulo a notícia da restauração. Parte da população insuflada pelos espanhóis resolveu aclamar o paulista Amador Bueno, rico fazendeiro, rei de São Paulo. Recusando o título, procurou abrigo no mosteiro de São Bento.
  • Este episódio pode ser conceituado como "simples e vã tentativa dos castelhanos em, fazendo valer o prestígio adquirido, subordinarem São Paulo à coroa da Espanha".


Revolta de Beckman (1684)


  • Ocorreu no Maranhão e teve como causas: (1)a luta entre os colonos e jesuítas devido a escravização dos índios; (2) a mudança da sede do governo do Estado do Maranhão, de São Luís para Belém; (3) os abusos cometidos pela Cia de Comércio do Estado do Maranhão que exercia o monopólio de todo o comércio de compra e venda da produção maranhense;  (4) a concorrência na exploração das "Drogas do Sertão".
  • Aproveitando a ausência do governador, Manuel Beckman (rico fazendeiro), ajudado pelo irmão Tomás Beckman, Jorge Sampaio e Francisco Deiró, depuseram o capitão-mor e tomaram a administração da capitania.
  • Organizaram uma "Junta dos Três Estados" (representantes do clero, nobreza e povo) que tomou as seguintes medidas: (1) expulsão dos jesuítas; (2) abolição do monopólio comercial (a Cia de Comércio foi extinta); (3) envio de um emissário a Portugal para justificar o movimento e fazer reclamações.
  • O movimento terminou com a nomeação do novo governador, Gomes Freire de Andrade, que anulou os atos da Junta.
  • A repressão à revolta levou à morte os líderes rebeldes. Manuel Beckman foi enforcado (1685).
  • Este movimento, foi isolado e não contestou a dominação metropolitana, mas apenas um de seus aspectos: o monopólio.
  • O governo português extinguiu a Companhia de Comércio do Maranhão, como queriam os revoltosos, mas os jesuítas puderam retornar e continuar o seu trabalho.

Guerra dos Emboabas (1709)


  • Ocorreu em Minas Gerais e teve como causa a luta pela posse das minas entre paulistas e emboabas (forasteiros).
  • O primeiro incidente aconteceu entre o paulista Jerônimo Pedroso de Barros e o reino (português) Manuel Nunes Viana, em Caeté. A nomeação do "emboabas" Manuel Nunes Viana como "governador das Minas" irritou os paulistas, pois se sentiram lesados, começando, então, violentos choques: atacados pelos emboabas chefiados por Bento do Amaral Coutinho, junto ao rio das Mortes, depois de resistirem, os paulistas cercados se renderam, mas foram traídos. Foi o episódio do Capão da Traição (1708) onde morreram 300 paulistas.O governador do Rio de Janeiro D. Fernando Mascarenhas de Lencastre tentou acabar a luta, mas não teve êxito (1709). Seu substituto, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho conseguiu a pacificação.
  • Principais conseqüências: (1) criação de uma nova Capitania, a de São Paulo e Minas do Ouro, separada do Rio de Janeiro (09 de Novembro de 1709) (2) elevação da vila de São Paulo à categoria de cidade (julho de 1711); (3)  separação entre a Capitania de São Paulo e a de Minas Gerais (1720) (4) descoberta de ouro nas regiões de Mato Grosso e Goiás para onde se dirigiram, depois, os paulistas.


Guerra dos Mascates (1710 - 1711)

  • Foi um conflito ocorrido em Pernambuco, resultado do choque entre a aristocracia rural de Olinda e os comerciantes ("Mascates") de Recife.
  • A rivalidade entre "brasileiros" (de Olinda) e "portugueses" (de Recife), tinha como causas: 1º) a decadência da lavoura açucareira devido a concorrência Antilhana levou a aristocracia rural a endividar-se com os comerciantes portugueses que monopolizavam o comércio de Pernambuco; 2º) mesmo decadente, Olinda era Vila, possuía Câmara Municipal e tinha autonomia em relação a Recife, que era sua comarca e subordinada administrativamente.
  • A elevação de Recife a categoria de vila pelo rei de Portugal no final de 1709, por pressão dos "mascates" separando-a de Olinda precipitou os acontecimentos.
  • Recife foi confirmada como vila, passando a ser o centro administrativo da Capitania. A vitória dos comerciantes de Recife tornou claro à aristocracia rural que os seus interesses eram bem diferentes dos interesses portugueses.
  • A rivalidade entre brasileiros e portugueses na Capitania continuou a existir mas só se transformou novamente em revolta mais de um século depois (1817 - Revolução Pernambucana) e com caráter diferente.


Revolta de Vila Rica (1720)

  • Ocorreu em Minas Gerais e teve como causas principais (1) a criação das "casas de fundição", (2) a carestia de vida
  • . Com a criação das casas de fundição, todo ouro extraído deveria ser fundido em barra , isto é, "quintado" (retirado o imposto do quinto) sendo proibida a circulação do ouro em pó, para evitar o contrabando.
  • O monopólio que os reinóis (portugueses) exerciam sobre a comercialização de gêneros de primeira necessidade encarecia, à medida que aumentava a produção de ouro. Vários mineiros, entre os quais Pascoal da Silva Guimarães, Sebastião Veiga Cabral e Felipe dos Santos Freire (principal líder), em Vila Rica, promoveram o levante.
  • O governador de Minas, Conde Assumar (D. Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos) que estava em Ribeirão do Carmo (Mariana), atendeu às exigências dos revoltosos. Em seguida , contando com os "Dragões" e os paulistas, avançou contra Vila Rica, reprimiu violentamente esta rebelião prendendo os principais chefes. Felipe dos Santos, o de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte: foi enforcado e esquartejado.
  • palavras de Felipe dos Santos: "Morro sem me arrepender do que fiz e certo de que o canalha do rei será esmagado". Era o prenúncio das lutas de libertação nacional que se desencadeariam no Brasil a partir do século XVIII.


VEJA A APRESENTAÇÃO DINÂMICA

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Santo Tomás de Aquino - Razão a serviço da fé

Deus existe? É possível provar sua existência? Razão e fé são incompatíveis? Tais questões foram centrais na filosofia medieval, que, por mais de mil anos (aproximadamente, entre os séculos 2 a.C. e 13 d.C.), subordinou especulações filosóficas aos dogmas das escrituras sagradas, sob o domínio da Igreja Católica. 



A partir da Renascença, o período passou a ser conhecido como Idade Média, para caracterizar uma era de "trevas" para a razão, localizada entre o florescimento da filosofia helenística na Antiguidade e sua retomada no fim do século 13. Mas, ao contrário, a Idade Média foi uma época de consideráveis avanços em filosofia, principalmente no campo da lógica, e cujos temas permanecem atuais.

Podemos destacar dois períodos na filosofia medieval. O primeiro, a Patrística (2 a.C. a 7 d.C.), teve como maior expoente Santo Agostinho (354-430), o filósofo que adaptou o pensamento de Platão aos preceitos da Igreja Católica.

O outro período, a Escolástica (século 8 a 14), assim chamada em razão dos professores das universidades medievais, os escolásticos, foi marcada pela tentativa de conciliação entre razão e fé. Um dos mais importantes nomes da filosofia medieval e maior representante deste período foi Santo Tomás de Aquino (c.1225-1274).


Aristóteles


Na época de Tomás de Aquino começaram a ser difundidos na Europa escritos de Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), grande parte graças a filósofos árabes comoAverróes e Avicena, que traduziram e comentaram a obra.

Mas, ao contrário de Platão, cuja filosofia idealista incluía, por exemplo, uma noção de alma imortal (e, deste modo, pôde se adequar mais facilmente ao cristianismo), o pensamento aristotélico, com seu caráter mais científico, representava uma ameaça à política eclesiástica.

Coube a Tomás de Aquino tornar a metafísica aristotélica não somente aceitável para os cânones papais como também um fino tecido argumentativo em favor da fé cristã.


Razão e fé


Oposto à Patrística, o pensamento tomista é construído em bases racionais e empíricas, separando filosofia de teologia, apesar de subordinar a primeira à segunda. Assim, o papel da razão é demonstrar e ordenar os mistérios revelados pela fé.

Razão e fé puderam ser, enfim, harmonizadas, apesar de serem distintas, mesmo no que diz respeito às verdades que podem alcançar, conforme afirma Tomás de Aquino em "Súmula contra os gentios": Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que ultrapassam totalmente as capacidades da razão humana. Uma delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que Deus existe, que há um só Deus etc. Estas últimas verdades, os próprios filósofos as provaram por via demonstrativa, guiados que eram pelo lume da razão natural. 


Deus existe?


Um exemplo de como o tomismo emprega a razão a serviço da fé cristã é o conjunto de argumentos, todos de cunho empírico, isto é, que se demonstram por via da experiência, que provam a existência de Deus. Eles ficaram conhecidos como as Cinco Vias que levam a Deus. São elas:



  • 1) Movimento:
    Este primeiro argumento parte da constatação de que as coisas se movem. Galáxias, planetas, rios, nuvens, homens, moléculas, tudo na natureza está em constante movimento e transformação.

    E se existe o movimento, existe também aquilo que provoca o movimento. Como um jogador que chuta uma bola, um raio que incendeia uma árvore ou a força gravitacional que mantém corpos celestes em órbita.

    Constata-se, portanto, que este agente do movimento é externo, ou seja, nada pode mover a si próprio, ou ser, ao mesmo tempo, motor e movido: nenhum carro se locomove sem algum tipo de combustível.

    Mas este raciocínio conduz a um absurdo lógico: se todo movido possui um motor, há uma sucessão infinita e, não havendo um primeiro motor, também não haveria um segundo e assim por diante. Em resumo, o movimento seria impossível! 

    A única forma de explicar o movimento é conceber Deus como causa motora primeira, que não é movida por nenhuma outra.


  • 2) Causalidade:
    A segunda via é parecida com a primeira. Observa-se na natureza uma ordem segundo uma relação de causa e efeito. O homem com o taco de bilhar é a causa; a bola que entra na caçapa, o efeito.

    É impossível algo ser causa e efeito ao mesmo tempo: a bola de bilhar não entra sozinha na caçapa. Contudo, se toda causa tem um efeito, haveria, novamente, uma seqüência infinita, a menos que admitamos uma causa primeira no universo, que é Deus.


  • 3) Possível e necessário:
    As coisas podem ser e não ser. Todas as pessoas que conhecemos e nós mesmos não existimos para sempre. As coisas nascem, se transformam e morrem. Em outras palavras, somos seres contingentes.

    Porém, isso nos leva a pensar que houve um momento em que nada existia, um instante de puro nada, que os astrônomos, atualmente, localizam antes do "Big Bang", e que deu origem a tudo que há no universo.

    Para que o universo saísse da mera possibilidade para a existência é preciso imaginar que algo tenha provocado isso, caso contrário o nada persistiria como nada.

    Conseqüentemente, entre todos os seres possíveis (que podem ser e não ser), é razoável acreditar que haja um que seja necessário, isto é, não contingente. Como necessidade precisa ser causada, retorna-se ao absurdo das cadeias causais infinitas do segundo e primeiro argumentos, a menos que Deus exista como necessário por si mesmo.


  • 4) Graus de perfeição:
    O quarto argumento é mais fácil de entender. Diz Tomás de Aquino: "Encontram-se nas coisas algo mais ou menos bom, mais ou menos verdadeiro, mais ou menos nobre, etc." Por exemplo, fulano é mais legal que beltrano, o banco A é mais confiável que o banco B, etc. 

    "Ora, mais ou menos se dizem de coisas diversas conforme elas se aproximam diferentemente daquilo que é em si o máximo". Quer dizer, para afirmar que uma coisa é mais ou menos em graus de perfeição, é preciso ter algo como parâmetro comparativo, dotado de perfeição absoluta, como um quente absoluto que permite dizer que esta água está muito quente - e aquela, apenas morna.

    Conclui Tomás de Aquino: "Existe algo que é, para todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o chamamos Deus".


  • 5) Finalidade:
    A quinta e última via trata dos seres que se movem em uma direção, que possuem uma finalidade, o que é facilmente verificável na vida na Terra, que progride rumo a maiores níveis de organização, desde simples bactérias até modernas sociedades humanas.

    Tomás de Aquino usa como o exemplo o arqueiro: a flecha só parte em direção ao alvo porque existe o arqueiro que mira e dispara, isto é, porque há uma inteligência guiando a flecha. O "arqueiro" do universo, por assim dizer, é Deus.


    José Renato Salatiel*

    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
  • quinta-feira, 2 de junho de 2011

    Como funciona o processo de criação de novos estados?

    Mudanças na divisão do território brasileiro precisam ser aprovadas pela maioria absoluta do Congresso Nacional
    Paula Sato

    Mapa atual do Brasil tem 26 estados 
    e mais o Distrito Federal. 



    A divisão do Brasil começou em 1534, quando ainda era uma colônia. Nessa época, foi dividido em 15 faixas, chamadas de capitanias hereditárias. Já em 1709, foi segmentado em sete províncias: Grão-Pará, São Paulo, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Pedro. De lá para cá, aumentou sua extensão e foi redividido por várias vezes. O mapa atual do país é resultado da Constituição de 1988, que manteve a definição de territórios federais, mas acabou com aqueles que existiam. Diferentemente dos estados, os territórios não têm autonomia, pertencem à União, e por isso seus governadores são nomeados pelo presidente, sem eleição. Com a nova legislação, Roraima e Amapá foram transformados em estados, Fernando de Noronha foi incorporado a Pernambuco e Goiás foi desmembrado, dando origem a Tocantins.
    Todas essas mudanças no mapa estão previstas na Constituição, que diz o seguinte: "os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar". Ou seja, para que um novo estado seja criado, é necessário que seja apresentada uma proposta ao Congresso, que pode aprovar a realização de uma consulta popular. Se a população votar pelo sim, o documento volta para o órgão legislativo, onde precisa receber a maioria absoluta dos votos (metade mais um da Casa) para ser aprovado. Depois, o projeto ainda dever passar pelo presidente da República, que poderá sancioná-lo para então entrar em prática. 

    Atualmente, 22 projetos para a criação de novos estados ou territórios federais tramitam na Câmara dos Deputados. Mas, como alguns deles tratam do mesmo assunto (três deles dizem respeito ao território do Rio Negro), no total, há propostas para dez novos estados (Araguaia, Triângulo, Carajás, Rio Doce, Guanabara, Mato Grosso do Norte, Rio São Francisco, Maranhão do Sul, Tapajós e Gurgueia) e cinco territórios (Pantanal, Oiapoque, Rio Negro, Solimões e Juruá). As justificativas para mudar a divisão territorial brasileira são as mais variadas. No caso do Tapajós, por exemplo, o Pará seria dividido ao meio, já que seu tamanho dificulta a administração. Enquanto isso, os territórios de Solimões, Juruá e Rio Negro serviriam para garantir mais fiscalização e controle sobre a Amazônia. Alguns desses projetos foram apresentados ainda na década de 1990 e até hoje não conseguiram ser aprovados. Mas, se saírem do papel, podem mudar o mapa do Brasil mais uma vez.

    Consultoria: Câmara dos Deputados