terça-feira, 31 de agosto de 2010

Adam Smith cria a bíblia do liberalismo

Renan Garcia Miranda* Especial para a Folha de S.Paulo
Robinson Crusoé foi parar numa ilha deserta depois que o navio em que viajava naufragou. Sem pestanejar, Crusoé decidiu suas prioridades: primeiro, construir um abrigo onde pudesse evitar o frio e os animais selvagens; depois, pescar e colher frutas para se alimentar. Já instalado, e com a sobrevivência garantida, pôde investir: melhorou as condições da casa improvisada, construiu equipamentos para pescar mais eficientemente e tomou algumas medidas para proteger-se contra outros habitantes da ilha que talvez fossem pouco amistosos. Esse é o foco do romance profundamente atraente de Daniel Defoe (1660-1731), "A Vida e Estranhas e Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoé de York, Marinheiro", escrito em 1719. A habilidade fantástica de Crusoé representa o triunfo do individualismo, da capacidade humana de dominar a natureza. Um indivíduo completamente dominado pela busca racional dos interesses materiais. Foi essa imagem da capacidade individual que o economista Adam Smith (1723-1790) reafirmou. Inglês, como Defoe, vivendo na época em que seu país experimentava o início da Revolução Industrial e assistindo ao triunfo das fábricas e ao desejo voraz de conquistar mercados, ele se tornou um observador do homem de negócios independente, o empresário. Seu livro, "A Riqueza das Nações" (1776), em que postulou a liberdade à atividade empresarial, tornou-se uma espécie de bíblia do liberalismo. Havia aí a noção de que o interesse individual deveria ser aceito e estimulado. Caberia aos governos ajudar os homens a expressarem seus interesses e, com isso, encontrarem a felicidade. Num mundo liberal regido pelas forças do mercado, uma mão invisível garantiria a sustentação da economia sem que fosse necessária a presença da "mão pesada" dos Estados mercantilistas. A mão invisível do mercado conciliaria o interesse pessoal com o interesse comum ou público. O inglês Adam Smith expressava sua fé no progresso da sociedade, no indivíduo, tornando-se cada vez mais habilidoso em seu trabalho e, dessa forma, aumentando a quantidade de ciência. O conhecimento seria progressivo e, como resultado, a condição humana melhoraria constantemente. Seria o triunfo de uma sociedade de homens com o espírito de Robinson Crusoé.

Entenda a questão árabe-israelense

Israel precisa encarar a tragédia palestina de frente e dizer: 'Excetuando o suicídio, faremos tudo que pudermos para curar essa tragédia'. Vejo o conflito entre Israel e Palestina em 1948 como tragédia, porque foi um conflito entre o certo e o certo. Tanto palestinos quanto israelenses foram responsáveis por ele. Foi um conflito entre duas nações profundamente feridas, histéricas, aterrorizadas. Nenhum lado pode ter grande orgulho do que fez em 1948. Precisamos ver como poderemos curar essas feridas, lidando com os refugiados palestinos. Esses refugiados deveriam ser retirados de seus campos de refugiados agora mesmo, antes mesmo de sabermos quais serão as fronteiras exatas de uma futura Palestina. (...) É isso que é urgente, e não a culpa. Culpa é o que não falta: há o suficiente para todos. Amós Oz. "Tragédia iguala todos na culpa", Folha de S. Paulo, 23 abr. 1998, p. 10. A criação unilateral do Estado de Israel em 1948 levou ao acirramento dos conflitos no Oriente Médio. Contando com o apoio incondicional dos Estados Unidos, assim como da ex-URSS para o estabelecimento de um lar judeu na Palestina, tarefa essa realizada pela então recém-fundada ONU, em 1947. Essa concordância aumentou sobretudo pelo sofrimento vivido pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, quando do Holocausto. Discordando da criação do Estado de Israel, os árabes travaram a primeira de uma série de guerras que se seguiram, mas ao final do conflito os palestinos ficaram sem território, lançado-se na diáspora. Atualmente, eles compõem o maior contingente de refugiados do mundo de um único povo, cerca de 3,5 milhões de pessoas.
Entre as guerras envolvendo árabes e israelenses, a de 1967 - denominada Guerra dos Seis Dias - acentuou as rivalidades por envolver territórios de outros países. Ao final do embate, Israel invadiu a Península do Sinai (Egito), a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã (Síria). Contra essas ocupações, o Conselho de Segurança da ONU compôs a resolução 242 (1967), que exigia a retirada imediata das áreas ocupadas, mas o governo israelense jamais cumpriu tal exigência e nem por isso sofreu represálias. À medida que a conjuntura política se alterou, também a evolução dos conflitos sofreu mudanças drásticas. Após a morte de Nasser, a presidência de Anuar Sadat firmou com Israel o acordo de Camp David (Estados Unidos), em 1979, acertando a devolução dos territórios do Sinai. Esse acordo, visto pelos árabes como traição do governo do Egito à causa palestina, resultou no assassinato de Sadat em 1981. No ano seguinte, Israel invadiu o sul do Líbano, onde realizou massacres em 18 anos de ocupação, findos apenas em meados de 2000.
A situação dos palestinos confinados em áreas precárias - cujos recursos hídricos estão sob controle israelense, há altos índices de desemprego e total subjugo aos judeus - resultou na eclosão da Intifada ("revolta das pedras"). Durante alguns anos, os palestinos, sobretudo os jovens, enfrentaram as forças armadas israelenses nos territórios invadidos. Situação tremendamente desigual, que chamou a atenção da "comunidade internacional" para as condições de vida da população palestina. A resistência palestina, reunida em torno da Organização para Libertação da Palestina (OLP), criada nos anos sessenta e liderada por Yasser Arafat, deu ao povo palestino a dimensão de identidade coletiva. Terminada a Guerra Fria e reduzido o apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel, iniciaram-se conversações para o estabelecimento de um processo de paz. As primeiras reuniões ocorreram em Madri, em 1991. Dois anos depois, o líder palestino Yasser Arafat e o primeiro-ministro israelense Itzhak Rabin (1922-1995) firmaram o Acordo de Oslo I, em setembro de 1993, sob o patrocínio de Washington. O aperto de mãos entre os dois representou simultaneamente o reconhecimento do Estado de Israel por parte da OLP (pois na carta de fundação da organização estava prevista a destruição do Estado judeu) e a aceitação da OLP por parte de Israel, como legítima representante do povo palestino. No ano seguinte, a Autoridade Nacional Palestina passou a controlar alguns territórios da Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
O segundo acordo de Oslo (set. 1995), ampliou as áreas em questão e estabeleceu um cronograma para a retirada das tropas israelenses de porções da Cisjordânia. Porém, o assassinato de Rabin em novembro de 1995 abalou a política interna e repercutiu sobre o "processo de paz". Nas eleições do ano seguinte, sob uma nova onda de atentados contra alvos judeus, Benyamín Netanyahu (1996-99), do partido de direita Likud, acabou eleito e jogou um balde de água nas conversações. Além de estimular a criação de novas colônias judias em territórios palestinos, ele se referia a Arafat como terrorista. A eleição de Ehud Barak em maio 1999, do Partido Trabalhista, favorável ao processo de paz, retomou as negociações. Inclusive, um corredor foi criado ligando a Faixa de Gaza à Cisjordânia. Mas o apoio interno de Barak diminuiu em meados de 2000. E o ponto central da questão palestina, ou seja, a declaração do Estado palestino em setembro de 2000, foi postergada. Arafat já havia declarado simbolicamente o Estado palestino em 1988, quando estava exilado. Para o intelectual palestino Edward Said, crítico do processo, a paz corrupta de Arafat com Israel perdoou o movimento sionista por tudo que fez aos palestinos, a começar pela destruição de sua sociedade e a expulsão obrigatória de 70% deles da Palestina, em 1948, e acrescenta: nunca poderá haver paz entre os árabes palestinos e os judeus israelenses (e os muitos partidários da diáspora) até que se reconheça publicamente que a forma pela qual Israel despojou, oprimiu e roubou o povo palestino é uma questão de política de Estado.(...) Enquanto se negar ou se evitar encarar de frente a realidade básica - que Israel existe, como Estado judeu, graças ao fato de haver suplantado os direitos de todos os palestinos com um direito judaico 'superior' -, não pode haver nem conciliação nem coexistência verdadeira. (Folha de S. Paulo, 12 out. 1997, p. 1-25). A onda de distúrbios ocorrida na segunda quinzena de setembro de 2000, quando o exército israelense reprimiu duramente manifestações palestinas na Cisjordânia e em Jerusalém, causando a morte de mais de uma centena de palestinos, inclusive de crianças indefesas, parece corroborar a tese de Said. Concessões significativas e a renúncia de Israel a ter um Estado exclusivamente judeu parecem ser o ponto-chave para uma verdadeira paz. Por Roberto G. Menezes Do Cursinho da Poli

Século 21 inicia novas tensões político-econômicas

Márcio Masatoshi Kondo* Especial para a Folha de S.Paulo
Com o fim da Guerra Fria, o conflito Leste-Oeste foi substituído pelo conflito Norte-Sul. Substituímos, nos anos 90, as tensões ideológicas pelas (em breve superadas) tensões econômicas do capitalismo. Esse seria um bom início de síntese da última década do século 20. Seria, se não fossem alguns aspectos:
  • A República Popular da China não parece disposta a colocar cegamente seu pescoço na guilhotina da economia de mercado, pois entende que as regras do mercado (OMC) favorecem apenas os que criaram as regras do comércio global (G-7).
  • A explosão de nacionalismos pelo mundo inteiro sugere o nascimento de uma "era das picuinhas". Às tensões "tradicionais" (curdos, Tibet, bascos, Irlanda, palestinos-israelenses, Angola), somam-se outras, que, antes sufocadas pela "pax" da Guerra Fria, afloraram e ganharam corpo neste mundo sem xerifes, em especial, dentro do antigo espaço soviético e da África: Tchetchênia, na Federação Russa; Ossétia do Sul e Abkházia, na Geórgia; Iugoslávia dividida em cinco países; Taliban x Fiusa, no Afeganistão; Caxemira disputada pela Índia e pelo Paquistão; Timor Leste; guerras civis na África.
  • O aumento da pobreza e da miséria em todos os países do mundo (alguns ricos ficaram muito mais ricos e muitos pobres ficaram muito mais pobres, doentes e famintos) explica, em parte, a expansão do fundamentalismo religioso na África, na Índia e no Oriente Médio, o aumento do crime em todos os seus matizes e em todos os quadrantes do planeta e a disseminação de movimentos populares, como o MST, no Brasil, as guerrilhas no México (zapatistas) e na Colômbia (Farc).
  • Os aparentemente monolíticos blocos econômicos da Nova Ordem possuem profundas trincas internas: a União Européia não consegue salvar Maastricht e implementar o euro; a ultra-sonografia da Alca, com parto previsto para 2005, mostra que o feto possui algumas doenças congênitas como a síndrome de Maradona-Pelé, na qual uma parte da célula procura anular a outra, a megalomania estadunidense, o mal do Chile, a febre cubana e a gripe espanhola (Santander e Telefônica, para não falar de outras). O parto será prematuro.
  • O Pacífico é misterioso: a China olha para Taiwan e lambe os beiços com apetite; a economia japonesa afunda lânguida e inexoravelmente, sacudida por alguns tremores e erupções como a placa do Pacífico que mergulha sob a placa Asiática; a Austrália não sabe se é Apec ou é Commonwealth; as Coréias estão flertando uma com a outra; a República Socialista do Vietnã recebeu mr. Bill Clinton, presidente dos EUA, de braços e cofres abertos. Não há uma Nova Ordem. Estamos na fase pós-mudança de casa: tudo espalhado, objetos quebrados e perdidos. Esse é o nosso fardo no século 21: arrumar e montar a casa. Como queremos e merecemos.
  • sábado, 28 de agosto de 2010

    Explosões em Hiroshima e Nagazaki inauguraram era nuclear


    Eram 8h15 da manhã do dia 6 de agosto de 1945 quando os habitantes da cidade japonesa de Hiroshima viram um enorme clarão seguido de um colossal estrondo. Pela primeira vez, uma bomba de fissão nuclear era usada numa guerra contra uma população civil. Isso aconteceria somente mais uma vez na história: três dias depois, em Nagazaki, atingida por outro artefato desenvolvido pelos norte-americanos. Estima-se que 140 mil pessoas tenham morrido em Hiroshima e outras 70 mil em Nagazaki, sem contar sobreviventes que morreram nas décadas seguintes em decorrência dos efeitos nocivos da radiação. Os ataques marcaram o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e deram início à era nuclear e à corrida armamentista entre dois blocos dominantes e antagônicos, os Estados Unidos e a ex-União Soviética. Foi um dos períodos mais tensos da história, já que havia o risco do mundo ser devastado por um confronto com armas atômicas. Passados 65 anos das explosões em Hiroshima e Nagazaki, a comunidade internacional tenta impedir o armamento de países como Irã e Coreia do Norte. O perigo, hoje, é que a bomba possa ser usada por extremistas religiosos ou terroristas.
    Projeto Manhattan
    O governo dos Estados Unidos financiava pesquisas sobre a fissão nuclear (base das primeiras bombas atômicas) desde o começo da Segunda Guerra Mundial. Alertado pelo físico Albert Einstein (1879-1955) de que os alemães poderiam construir a bomba antes dos Aliados, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt (1933 a 1945) inaugurou o Projeto Manhattan em 1942. O projeto secreto reuniu os maiores cientistas da época - muitos deles europeus que fugiam dos nazistas, como o próprio Einstein - para produzir e detonar três bombas atômicas. A primeira delas foi testada em 16 de julho de 1945 no deserto de Alamogordo, próximo da base de Los Alamos, no Estado do Novo México. Menos de um mês depois, o presidente Harry Truman (1945 a 1953) autorizou o uso das outras duas contra os japoneses. Na ocasião, os alemães já haviam se rendido aos soviéticos, mas o Império do Japão ainda resistia no Pacífico. Anos antes, o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, foi responsável pela entrada dos americanos na guerra. A bomba, que explodiu em Hiroshima, foi apelidada de "Little Boy" e tinha a potência de 20 mil toneladas de TNT. Ela estava a bordo de um bombardeio B-29 chamado Enola Gay (em homenagem a mãe de um dos quatro tripulantes), que partiu da ilha Tinian, no Oceano Pacífico, na madrugada do dia 6 de agosto. A terceira bomba tinha o apelido de "Fat Boy". O alvo inicial era Kokura, mas devido ao céu nublado, que impediria avaliar visualmente os danos causados, os militares optaram pela cidade de Nagazaki, que reunia a maior comunidade cristã do Japão. As cidades destruídas eram importantes portos japoneses e centros industriais. Elas foram escolhidas por terem sido pouco atingidas pelos bombardeios dos Aliados, o que permitiria verificar melhor o potencial das novas armas. Ninguém sabia, até então, o que era aquela bomba. Prova disso é o fato de os jornais japoneses a chamarem, nos dias seguintes, de "bomba especial" dos americanos. Somente em Hiroshima, um terço da população morreu e 90% das construções ruíram. Após os ataques, o Imperador Hiroíto aceitou a rendição do Japão, pondo fim à guerra. Para os militares americanos, os ataques abreviaram o término da guerra e, assim, pouparam a vida de milhares de soldados e civis. Historiadores, entretanto, acreditam que a rendição japonesa era iminente e, por isso, a bomba era desnecessária. A questão, porém, ainda é muito polêmica.
    Guerra Fria
    A devastação das cidades japonesas mudou o curso da história. Era a primeira vez que o homem possuía tecnologia de destruição em massa, o que ameaçava a vida no planeta. No período que se seguiu, por quase 50 anos, os Estados Unidos e a União Soviética travaram uma disputa ideológica e estratégica que ficou conhecida como Guerra Fria. O auge dos conflitos aconteceu no começo dos anos 1960, quando os russos instalaram ogivas em Cuba, a poucos quilômetros da costa americana, em represália à presença de mísseis americanos na Turquia. Os Estados Unidos fizeram uma tentativa frustrada de invasão da ilha, colocando as superpotências nos limites de uma guerra nuclear. Apesar disso, os países investiram em arsenais atômicos mais como uma forma de dissuasão do que propriamente com a intenção de usá-los em guerras. Os Estados Unidos, que até 1949 eram a única nação a possuir uma bomba atômica, produziram armas ainda mais poderosas. Uma delas foi a bomba-H ou bomba de hidrogênio (baseada na fusão nuclear), testada em 1952 e cinco mil vezes mais potente do que a usada em Hiroshima . Mesmo assim, evitou o emprego de armamento nuclear nas guerras da Coreia (1950-1953) e do Vietnã (1959-1975). O primeiro Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares (TNP) foi assinado em 1967 pelas cinco potências nucleares oficiais: Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França. Outros acordos bilaterais possibilitaram a redução do número de ogivas existentes no mundo nos anos 1970, e muitos países abandonaram programas nucleares com fins militares, incluindo a Argentina e o Brasil. Além das bombas, havia o perigo da radioatividade. Em 28 de março de 1979, o derretimento parcial de um reator nuclear na base americana em Three Mile Island, no Estado da Pensilvânia, liberou partículas radioativas na atmosfera. O pior dos desastres ocorreu em 26 de abril de 1986, na explosão de quatro reatores em Chernobyl, na Ucrânia, contaminando boa parte da Europa Oriental. O fim da Guerra Fria, porém, trouxe o risco de programas clandestinos em países politicamente instáveis, como o Paquistão, ou ameaçados por extremistas religiosos, como o Irã. A Coreia do Norte, que realizou testes nucleares ano passado, usa as bombas para conseguir dividendos diplomáticos e financeiros. Hoje, teme-se uma nova corrida armamentista no Oriente Médio, uma das regiões mais conflituosas do mundo. Por isso, há uma pressão da Organização das Nações Unidas e de países árabes para que o Irã desista de seu programa nuclear e para que Israel se desfaça de seus arsenais. De acordo com estimativas do Boletim de Cientistas Atômicos, o mundo possui hoje 23.574 artefatos nucleares, contra 32.512 em 2000. A Rússia vem em primeiro lugar, com 12.987, seguida dos Estados Unidos (9.552), França (300), Reino Unido (192) e China (176), incluindo estimativas em Israel (200), Paquistão (90), Índia (75) e Coreia do Norte (2).

    Eleições mantêm candidatos folclóricos, mas censuram humoristas

    Mesmo com a censura aos programas humorísticos, as eleições gerais de 2010 preservam o aspecto mais burlesco da tradição democrática com as campanhas dos candidatos folclóricos, que contam com votos de protesto ou com a própria fama para conseguirem uma vaga no Congresso. Desde a Antiguidade, o humor faz parte da democracia como instrumento de crítica aos governantes. No Brasil, a atual legislação proíbe a veiculação de piadas feitas na TV com políticos, ao passo que os partidos acolhem os tipos mais excêntricos e "celebridades" como candidatos. De acordo com a resolução nº 23.191 de 2009, que atualiza a Lei Eleitoral nº 9.504 de 1997, é vetado aos programas de emissoras de rádio e TV "usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido político ou coligação" (Art. 45, II). A desobediência à norma prevê a aplicação de multas às emissoras nos valores de R$ 21 mil a R$ 106 mil, duplicadas em caso de reincidência. A lei entrou em vigor nas eleições deste ano, que irão eleger presidente, governadores de 26 Estados e do Distrito Federal e representantes da Câmara dos Deputados e do Senado . No último dia 22 de agosto, artistas realizaram um protesto no Rio de Janeiro contra a lei que censura o humor político durante o período eleitoral. A manifestação foi organizada pelo movimento Humor Sem Censura. Para os humoristas, a legislação contraria a liberdade de expressão e afeta programas de TV como o Casseta & Planeta (Globo), CQC (Band) e Pânico (Rede TV!). No Brasil, o humor em política remonta aos tempos do Império, quando revistas e jornais traziam caricaturas e faziam chacotas sobre a vida na Corte. Até no período da ditadura militar (1964-1985), com a imprensa "amordaçada" pelo regime, publicações alternativas usavam o humor como forma de romper a censura e atacar os generais. A prática, porém, é muito mais antiga. Na Grécia, berço da democracia ocidental, a comédia surgiu no teatro grego em 488 a.C. As poucas comédias de Aristófanes que foram preservadas revelam ironias contra os políticos da época. Pelo menos um deles, Cleón, teria recorrido à Justiça para tentar silenciar o dramaturgo grego. A tradição foi mantida na Roma antiga, na Idade Média e no Renascimento , até os dias atuais. Nas sociedades democráticas, como os Estados Unidos, os candidatos respeitam e até mesmo participam de programas humorísticos. É o caso, por exemplo, da caracterização de Sarah Palin, candidata a vice de John McCain , feita pelo programa humorístico Saturday Night Live nas eleições presidenciais de 2008.

    Macaco Tião

    Há também, no Brasil, a tradição de expressar o descontentamento com a baixa qualidade de candidatos por meio do voto em figuras caricatas e em animais. É uma forma de protesto bem humorado que tem sido usada, atualmente, como estratégia de partidos políticos "nanicos". Em 1958, o "candidato" mais votado nas eleições para vereador foi Cacareco, um rinoceronte do Zoológico de São Paulo. O animal conseguiu 100 mil votos, cinco mil a mais do que o partido mais votado naquela eleição. O caso foi considerado um emblema na história do voto nulo no país. Outro "candidato" famoso foi o Macaco Tião, um chipanzé do Zoológico do Rio de Janeiro. A candidatura do macaco à Prefeitura do Rio, em 1988, foi lançada pelos humoristas do Casseta & Planeta, que à época editavam uma revista (Casseta Popular) e um tablóide (O Planeta Diário). O chipanzé obteve 400 mil votos e ficou em terceiro lugar entre os doze candidatos que disputavam a eleição. E para concluir, não esqueçamos do caso do bode Yoyô em fortaleza. Isso só foi possível porque, na ocasião em que Cacareco , o bode Yoyô e o Macaco Tião concorreram, os eleitores escreviam o nome dos candidatos em cédulas de papel, o que permitia a contagem de votos para os animais. A partir das eleições de 1996, as cédulas foram substituídas por urnas eletrônicas. Com isso, ficou impossível votar em candidatos que não fossem reconhecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Começaram, então, a proliferar personagens como Enéas Carneiro, que ficou conhecido pelo bordão "Meu nome é Enéas!". Ele disputou três eleições presidenciais (1989, 1994 e 1998) e chegou a ficar em terceiro lugar. Nas próximas eleições, além de candidatos conhecidos por envolvimento em casos de corrupção, como Paulo Maluf, Fernando Collor e Jader Barbalho , o eleitor ainda encontrará uma lista de artistas e "celebridades", como a Mulher Pêra, Maguila, Marcelinho Carioca, Ronald Esper e Tati Quebra-Barraco, entre outros. Um dos mais representativos é o palhaço Tiririca, candidato a deputado federal. Ele afirmou ter sido convidado pelo PR, e confessou não ter a mínima noção do que faz um parlamentar. Para os partidos, esses candidatos, que canalizam o descontentamento de parte do eleitorado ou usam a fama para conquistar eleitores, são vistos como uma oportunidade de atrair votos para a legenda. Ou seja, os partidos, que deveriam filtrar as candidaturas "exóticas", são os que mais as estimulam. E, diferente dos votos nulos para animais de zoológico, alguns deles conseguem se eleger para o Congresso, como Clodovil, Aguinaldo e Frank Aguiar.

    ATENÇÃO!!!! NOTICIA DE ULTIMA HORA: DIA27/08 O SUPREMO LIBEROU A AÇãO DOS HUMORISTAS.

    domingo, 8 de agosto de 2010

    OS ESTADOS UNIDOS NO TOPO DO MUNDO

    Origens

    Negligência Salutar: não sofreram grande pressão metropolitana (principalmente o Norte) + O ouro encontrado em seu território ficou com eles. + Seu processo de independência fez surgir uma nova sociedade: separada da Metrópole e voltada para os interesses da própria nação.

     A FORMAÇÃO DA POTÊNCIA

    Doutrina Monroe 1823: criada no contexto do Congresso de Viena no inicio do século XIX, seu objetivo era combater a recolonizarão da America com o lema “A AMÉRICA PARA OS AMERICANOS”. Com o tempo se tornou a base do imperialismo norte-americano.

    Doutrina do Destino Manifesto século XIX: incentivava a expansão territorial até a costa oeste (em direção ao Oceano Pacífico). Exemplos: conquista das terras indígenas e mexicanas (tratado de Guadalupe-Hidalgo, 1848)

    • O BIG STICK ou Corolário Roosevelt (Theodore), FINAL DO século XIX: mudança no rumo da política externa devido a necessidade de mercado consumidor para o excedente da produção agrícola e industrial. Seu lema era “FALAR MACIO COM UM PORRETE NA MÃO”. Exemplos: imperialismo americano na América Central (Emenda Platt em Cuba, Canal do Panamá, invasão da Nicarágua, etc.).

    Eclosão da Primeira Guerra: autodestruição dos países europeus concorrentes dos EUA , que sai da condição de devedor a credor e também assumiu a condição de maior potência mundial no pós-guerra. Exemplos: Plano Dawes (reconstrução da Europa após a Primeira Guerra) e difusão do “American Way of life” (estilo de vida americano). A CRISE DE 1929 GEROU UMA RETRAÇAÕA NO IMPERIALISMO IANQUE QUE PARTIU PARA A PLOITICA DA BOA VIZINHANÇA CO DELANO ROOSEVELT.

    GUERRA FRIA: Retomada do imperialismo americano após a Segunda Guerra em oposição a expansão do socialismo soviético. Exemplos: Doutrina Truman (criação e divulgação da imagem negativa da URSS), Plano Marshall (reconstrução da Europa após a Segunda Guerra), OTAN (força militar do capitalismo) e macarthismo (paranóia anticomunista).



    GOVERNOS DOS ESTADOS UNIDOS DE 1952 à BUSH FILHO

    Dwight Eisenhower (1952 à 1960): política externa em “zig-zag” (ora agia com dureza contra o socialismo, ora fazia acordos), enfrentou a Revolução Cubana e deu início a Guerra do Vietnã , gastou milhões para buscar superar a URSS na corrida espacial. Na política interna enfrentou altas taxas de desemprego.

    John Kennedy (1960 a 22/11/1963): promoveu o ataque a Baia dos Porcos e o bloqueio aeronaval a Cuba, criou a Aliança para o Progresso (na Conferencia de Punta Del leste em 1961), enfrentou a construção do Muro de Berlim (1961). Foi assassinado. DEMOCRATA

     Lyndon Johnson (1963 a 1968) que entrou no lugar de Kennedy: intensificou a Guerra do Vietnã, enfrentou o ano de 1968: lutas raciais e protestos contra a Guerra do Vietnã. DEMOCRATA

     Richard Nixon (1968 à 1974): assinou os acordos com a URSS e a China e o Tratado de Paris (fim da saída dos americanos do Vietnã), renunciou por conta do caso Watergate. Em seu lugar entrou Gerald Ford (1974-76). REPUBLICANO

    Carter (1977 a 1981): Não manteve a postura americana de policia mundial. Pressionou as ditaduras latinas para o processo de redemocratização. Teve sua popularidade abalada devido ao atentado á embaixada dos EUA no Irã e a revolução Sandinista na Nicarágua. DEMOCRATA


     Era Reagan (1981-88): adotou um severo discurso anticomunista, repressão aos regimes de esquerda na America Latina, retomou a corrida armamentista e o programa Guerra nas Estrelas, introduziu o modelo neoliberal nos EUA, foi acusado no caso Irãgate (venda de armas ilegalmente). REPUBLICANO

     George Bush (1989-73): deu continuidade à era Reagan, Guerra do Golfo (1991), aumentou a crise econômica iniciada na gestão Reagan, vivenvciou a Queda do Muro de Berlin e da URSS. REPUBLICANO

     Bill Clinton (1993/200): Não manteve a postura americana de policia mundial. Reiniciou o crescimento econômico dos EUA. DEMOCRATA

     Era Bush (2001-2008): retomada da postura militarista Americana, usou os atentados de 11 de Setembro para justificar sua política, recriou o “eixo do mal” (da era Reagan), implantou a “doutrina bush” e invadiu o Iraque (2003) e o Afeganistão (2001). REPUBLICANO

    sábado, 7 de agosto de 2010

    ENTENDA A LEI DA FICHA LIMPA

    Em todo o país, pelo menos 100 pessoas deverão ter a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa, segundo previsão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Até o momento, das 1.030 candidaturas indeferidas, pouco mais de 70 referem-se à nova lei.
    “É um número esperado por todos nós. A lei vai promover o saneamento nas candidaturas. Mas, estamos tratando de um universo pequeno de candidatos”, disse o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, em entrevista exclusiva à Agência Brasil e à TV Brasil.
    Segundo o ministro, com a entrada em vigor da lei, os próprios partidos se tornaram um filtro dos candidatos condenados por órgãos colegiados e que, portanto, tornaram-se inelegíveis pela regra da Ficha Limpa. Os indeferimentos das candidaturas nos TREs (tribunais regionais eleitorais) podem ser questionados no TSE e, em último caso, no STF (Supremo Tribunal Federal).
    A lei também impede a candidatura de políticos que renunciaram a mandatos para fugir de processos de cassação, como o ex-senador Joaquim Roriz (PSC-DF). Ele teve a candidatura a governador indeferida pelo TRE do Distrito Federal e promete recorrer à instância superior.
    Nesses casos, o ministro Lewandowski é prudente ao fazer uma avaliação. Segundo ele, é necessário analisar caso a caso o motivo da renúncia. “É preciso verificar se a renúncia se deu por motivos legítimos ou para escapar de punição”, disse. No TSE, os recursos sobre indeferimento de candidaturas deverão ser julgados até o dia 19 deste mês.
    Quanto aos possíveis questionamentos sobre a constitucionalidade da Ficha Limpa, especialmente em relação à sua retroatividade e entrada em vigor, Lewandowski se apressou em dizer que a lei obedece aos princípios constitucionais. Na definição da data de validade da nova regra, os ministros do TSE se basearam em jurisprudência do STF sobre a Lei de Inelegibilidade.
    Os ministros usaram o mesmo entendimento da época, o de que não seria preciso adotar o critério de anualidade, que estabelece que leis eleitorais só podem entrar em vigor um ano após a sua aprovação. Eles também determinaram que políticos que ainda estão respondendo a processo sejam barrados pela lei.
    Lewandowski explicou que a Ficha Limpa não impõe uma sanção ao candidato, apenas cria um requisito: não ter sido condenado por órgão colegiado. Por isso, os princípios da anualidade e da não retroatividade são desnecessários nesse caso.

    Estrela de debate, socialista Plínio é faz-tudo na própria campanha

    Esqueça os jatinhos que cruzam o Brasil em campanha pela sucessão presidencial. Nada de marqueteiros milionários para passar roteiros, sugerir agenda ou melhoras no visual. Tampouco há encontros com lideranças empresariais – chaves para financiar presidenciáveis. A candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) ao Palácio do Planalto é quase amadora. Seus aliados chamam de espontânea.
    No dia seguinte ao debate na TV Bandeirantes, durante o qual ofuscou Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), Plínio seguiu nesta sexta-feira (6) para o centro de São Paulo. O candidato octogenário passou cerca de uma hora distribuindo panfletos e conversando com potenciais eleitores. Em seguida, isolou-se para gravar programas de rádio e televisão.
    Um dos coordenadores da campanha de Plínio, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), disse ao UOL Eleições que o partido socialista depende quase exclusivamente da militância para fazer a campanha à Presidência. A legenda, que surgiu de um racha com o PT, abriu mão de financiamento privado para seus candidatos. Ele ocupou a mesma posição em 2006, quando Heloísa Helena concorreu ao Palácio do Planalto.
    “O candidato muitas vezes é obrigado a tratar da própria agenda, discutir os materiais, dirigir o carro até as assembléias, aos movimentos sociais e às agendas”, disse Valente sobre Plínio. “Desde motorista até formulador de programa, desde panfletador até verificador de agenda, o candidato socialista do PSOL tem de fazer tudo se quiser chegar lá”. Por conta disso, a campanha tem se concentrado em São Paulo, cidade onde o candidato vive.
    Para o debate de quinta-feira, Plínio foi o único dos concorrentes que precisou de carona do helicóptero da TV Bandeirantes para chegar aos estúdios da emissora. Marina Silva usou o de seu candidato a vice, o executivo Guilherme Leal, bilionário fundador da Natura. Dilma e Serra se beneficiaram de estruturas já prontas para esse tipo de deslocamento.
    Membros da campanha do PSOL dizem que a arrecadação do partido está na faixa de R$ 100 mil. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Dilma informou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que já conseguiu R$ 11,6 milhões até o início de agosto. Marina, com a ajuda do vice, amealhou R$ 4,6 milhões, enquanto Serra ficou com R$ 3,7 milhões, sempre segundo o diário.
    De acordo com a mais recente pesquisa do instituto Datafolha, Dilma e Serra estão tecnicamente empatados. Outros institutos, que divulgaram números mais recentes, colocam a petista à frente do tucano, sempre com Marina em uma terceira e distante posição. Plínio, na maioria das sondagens, mal chega a 1% das intenções de voto. Um cenário que Valente espera mudar após o debate.
    “Nós somos o PT da origem, do movimento popular, da espontaneidade, dessa relação direta com o povo”, disse o coordenador de campanha, que ficou ao lado de Plínio na disputa interna com Heloísa Helena. A ex-senadora alagoana preferia uma aliança com Marina, mas acabou derrotada. A crise gerou até a interdição do site do PSOL na internet. Procurada para comentar a candidatura de Plínio, Heloísa não foi encontrada.
    Auge no debate
    O ex-promotor público atraiu atenção no debate com críticas a todos os candidatos, permeadas de ironias e adjetivos que arrancaram sorrisos até dos adversários. Chamou Serra de hipocondríaco e Marina de conciliadora. Ainda classificou políticas de Dilma e Serra de "quinquilharia". O candidato do PSOL fez uma de suas críticas mais diretas à presidenciável do PV.
    "Você não sabe pedir demissão. Você devia ter pedido demissão", afirmou Plínio, em relação às tensões entre o Ministério do Meio Ambiente comandado por Marina com outros setores do governo. A senadora deixou a legenda onde começou sua militância para ser candidata à Presidência pelo PV. "Estou ouvindo você aqui e nem parece que você saiu do PT." Dilma era a principal rival de Marina em Brasília.
    A atuação levou o nome do socialista, durante o debate, à posição número um dos trending topics do microblog Twitter. Para Valente, Plínio se esforçou para mostrar que o PSOL é uma alternativa de esquerda mais clara do que Marina. “Uma candidatura que poderia ser alternativa, que é a da Marina, não se coloca como alternativa. A candidatura do Plínio vem ocupar esse espaço de alternativa.”
    “A candidatura Dilma trepidou, se arrastou, travou. O Serra foi extremamente burocrático, morno. Não tem o que propor contra o governo Lula. E a candidatura Marina não se coloca como de esquerda ou de direita, nem de oposição nem de situação”, criticou Valente, um dos motoristas preferidos de Plínio pelas agendas no Estado. Menos animado ele parece ao falar com eleitores que o confundem.
    “Grande Plínio”, diz um passante no centro de São Paulo. “Eu sou o Ivan! É Ivan”, responde o deputado. Um debate na TV não resolve as mazelas de uma campanha sem recursos.


    FONTE:
    Maurício Savarese
    Do UOL Eleições
    Em São Paulo