terça-feira, 6 de outubro de 2009

PRÉ-SAL

A Petrobrás iniciou no último dia 1º de maio, Dia do Trabalho, a exploração de petróleo no campo de Tupi, na Bacia de Santos, que abriga as maiores jazidas na camada pré-sal. O empreendimento vai colocar o Brasil entre os dez maiores produtores mundiais e o tornará uma das grandes potências energéticas, comparável ao Oriente Médio. A descoberta, anunciada em 2007, é vista pelo governo como a salvação para os problemas econômicos do país. Porém, as dificuldades para extração do minério - situado a uma profundidade que a companhia jamais atingiu - e a falta de estratégias mais bem definidas para a exploração, representam barreiras a serem superadas para que o sonho se torne realidade. É como se tivéssemos nas mãos um bilhete premiado de loteria. Se não soubermos como administrar a riqueza, ele se evapora de nossas mãos.
Riquezas
Pouco se sabe ainda sobre as reservas localizadas em águas ultraprofundas do litoral brasileiro. Por isso, a companhia começou fazendo o chamado TLD (Teste de Longa Duração). Ele consiste no levantamento de informações para definir a quantidade de petróleo existente e qual o melhor modelo de exploração. Esta etapa levará 1 ano e 3 meses para ser concluída.Ao todo, os campos de pré-sal possuem 800 km de extensão e 200 km de largura, indo desde o litoral de Santa Catarina até o Espírito Santo. Segundo a Petrobrás, Tupi, que possui a maior reserva, deve ter entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo. O volume corresponde a quase metade das reservas brasileiras, de14 bilhões de barris. A plataforma na Bacia de Santos tem capacidade de produzir 14 mil barris de petróleo por dia e, no próximo ano, atingir 100 mil barris/dia, de acordo com a empresa. Para 2017, estima-se que o número chegue a 1 milhão, que é quando finalmente dará o retorno financeiro. A empresa anunciou investimentos de US$ 28,9 bilhões (R$ 62 bi) até 2013.
Tecnologia
Mas para chegar até as jazidas não será nada fácil. Será preciso descer a uma profundidade de 2 km, perfurar 1 km de rocha e mais 2 km de espessura de sal e 2 km de solo, totalizando 7 km desde a superfície. E, além disso, serão necessários dutos para transportar o petróleo, localizado a uma distância de 340 km da costa litorânea. Para se ter uma ideia, a distância é três vezes maior que a que separa as plataformas da Bacia de Campos do litoral carioca. O país possui tecnologia, o problema são os custos elevados. O desafio é conseguir refinar o produto e, ao mesmo tempo, garantir um valor competitivo com o mercado. Este custo de exploração envolve não somente a tecnologia de extração como também a logística para o transporte. Se o processo todo ficar muito caro, o produto também ficará caro e ninguém vai querer comprar O risco em jogo é saber exatamente se o volume de petróleo existente na camada pré-sal vai compensar o investimento, e quanto vai custar o barril do petróleo daqui a 10 anos, quando serão colhidos os frutos. O valor do barril varia conforme a demanda e a oferta, mas fatores como a crise econômica mundial e os conflitos no Oriente Médio também influenciam no preço. Hoje, ele é negociado a US$ 53 (R$ 113). Para a empresa, o ideal será chegar a US$ 40 (R$ 85).
Investimento
Atualmente, o Brasil exporta petróleo do tipo pesado, que tem valor mais baixo no mercado, e importa o tipo leve, mais caro. Isso provoca um déficit nas receitas: em 2008, o país exportou 158,1 milhões de barris (ganho de US$ 13,6 bilhões [R$ 29,2 bi]) e importou 147,9 milhões de barris (gasto de US$ 16,3 bilhões [R$ 35 bi]), de acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo). As reservas da camada pré-sal são, principalmente, de hidrocarbonetos leves (óleo e gás), o que vai reduzir as importações do produto e aumentar os ganhos com a exportação. É por isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, no último dia 4 de maio, que o Brasil vai conquistar sua "segunda independência": a primeira, de 1822, foi política, enquanto essa será econômica.
Política
Além das questões financeiras envolvidas, existe uma decisão a ser adotada com urgência, que diz respeito à definição de um novo marco regulatório. Ele é importante porque vai dizer como investir e administrar o "prêmio" da loteria da natureza. A nova regulamentação vai dizer quem vai poder explorar os campos, quais serão os ganhos dos governos (Federal e Estadual) e para que áreas os recursos serão destinados (educação, por exemplo). Enfim, como será a partilha do bolo. A decisão é fundamental porque um planejamento mal feito pode transformar o sonho num pesadelo. Um exemplo é o que os economistas chamam de "doença holandesa", que é quando a exploração de riquezas naturais afeta outros setores da indústria. O conceito surgiu nos anos de 1970. Na época, a descoberta de uma fonte de gás natural na Holanda aumentou as receitas com exportação e valorizou a moeda nacional. Com isso, outros produtos perderam competitividade no mercado internacional e as indústrias quebraram. Nações ricas em petróleo, como países da África e Oriente Médio, tem um histórico de mazelas sociais, guerras e instabilidade política. O bilhete de loteria também pode se tornar uma maldição. Por isso, tão importante quanto extrair da riqueza é saber o que fazer com ela para manter o crescimento a longo prazo.

Resumo Energia

INTRODUÇÃO
DEFINIÇÃO Toda energia provém do Sol e é armazenada na natureza. Nosso corpo sobrevive por extrair a energia dos ali­mentos. Da mesma forma, a sociedade não funciona sem fontes de energia. FORMAS DE ENERGIA Energias limpas são as que poluem menos e fazem menos mal ao clima e à saúde humana. Energias renováveis são as de fontes naturais, como o sol e os ventos, e que a natureza repõe, como a água e a lenha. Energias sustentáveis são aquelas que garantem sua reposição no decorrer do tempo. MATRIZ ENERGÉTICA É o conjunto dos recursos de energia de uma sociedade, de uma região ou do mundo, incluindo as formas como eles são usados. Ela abrange as fontes de energia primárias (petróleo, água, carvão mineral, lenha, cana-de-açúcar e seu bagaço etc.), secundárias (gasolina, querosene, óleo diesel, álcool etc.), as tecnologias de geração (mecânica, térmica, nuclear, eólica etc.) e as formas e setores de consumo: eletricidade, combustíveis para transporte, indústria, comércio e residências.
PETRÓLEO MUNDO
DESEQUILÍBRIO Mantido o ritmo eco­nômico atual, o consumo mundial de energia poderá crescer 50% até 2030, com destaque para o de Índia e China. Há o risco de um desequilíbrio entre a ofer­ta e a procura e até desabastecimento, principalmente de petróleo. FIM DA ERA DO PETRÓLEO O aumento do consumo de petróleo no planeta, causado, sobretudo pela expansão da frota de automóveis e de caminhões, está acelerando a exaustão das reservas dessa fonte de energia não renovável. Já não se encontram jazidas capazes de compensar os poços de petróleo que estão secando. Assim, as reservas rema­nescentes se concentram cada vez mais em algumas poucas regiões do mundo - principalmente no Oriente Médio-, o que agrava a disputa geopolítica pelo controle desses recursos. O receio é que a produção, a médio prazo, não consiga acompanhar o aumento da demanda, que cresce 1,7% ao ano. A Agência Internacional de Energia (AlE) calcula que, para atender às necessi­dades energéticas do planeta, a pro­dução de petróleo terá de aumentar 50% até 2030. Mais escasso, o petróleo tende a ficar mais caro. O preço quintuplicou nos últimos nove anos, atingindo 100 dólares o barril em fe­vereiro de 2008. TENSÕES GEOPOLITÍCAS O risco de escassez do petróleo acirra as ten­sões políticas no mundo. Potências como os Estados Unidos e a China, que precisam importar grande quan­tidade do combustível para manter o funcionamento de sua economia, tentam garantir o controle sobre as reservas de outros países.
BRASIL
MATRIZ BRASILEIRA Até 1940, a queima de lenha fornecia 80% da energia. Os recursos priorizados depois foram o carvão mineral e a hidroeletricidade (a partir da década de 1940), o petróleo (anos 1950), grandes hidrelétricas e energia nuclear (1960), álcool (anos 1970 e 1980) e gás natural (anos 1990). SETOR ELÉTRICO O Brasil tem o maior potencial hídrico do mundo e o usa pa­ra produzir eletricidade, uma diretriz mantida nos últimos 50 anos. Na dé­cada de 1970 houve investimento ma­ciço na construção de grandes usinas hidrelétricas, como Itaipu, que entrou em operação na década seguinte. No período mais recente, porém, o consumo cresceu mais que a produção de energia. Há planos para a construção de novas represas para a obtenção de eletricidade, principalmente na Amazônia, mas esses projetos provocam resistência de seto­res preocupados com o impacto sobre o meio ambiente e sobre os moradores das áreas a ser alagadas. JAZIDAS BRASILEIRAS Em novembro de 2007, a Petrobras anunciou a des­coberta do campo de Tupi, em águas ultraprofundas, a 180 quilômetros de Santos, no litoral paulista. A jazida tem de 5 bilhões a 8 bilhões de barris - cerca de 60% de todas as reservas brasileiras atuais -, o que, a partir de 2013, poderá transformar o Brasil em exportador de petróleo. Em janeiro de 2008, na mesma região, é encon­trado o campo de gás de Júpiter, que pode tornar o país auto-suficiente em gás natural. CAMADA PRÉ·SAL É uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros, abaixo do leito do mar, do litoral do Es­pírito Santo ao de Santa Cata ri na. O pe­tróleo encontrado nessa área está preso entre S e 7quilômetrosde profundidade no subsolo, abaixo de uma camada de sal impermeável. Vários campos e po­ços foram descobertos no pré-sal, como o de Tupi, que é o principal. Há outros, como os de Guará, Bem-Te-Vi, Carioca, lara e Júpiter, esse último com grande quantidade de gás. AUTO·SUFICIÊNCIA O Brasil atingiu em 2006 a auto-suficiência na produção de petróleo. Isso significa que o país já produz petróleo considerável para evitar o gasto de divisas com a impor­tação. A nação ainda importa petróleo do tipo necessário para uso em suas refinarias, mas exporta o excedente do que extrai para o refino em outros países. A auto-suficiência significa que essa conta está equilibrada ou supera­vitária para o Brasil. PETROLEO E BIOCOMBUSTÍVEIS o Bra­sil está posicionado para tornar-se uma potência mundial no setor energético. Quando as reservas de petróleo come­çam a entrar em decadência em várias regiões do globo, nosso país descobriu recentemente um enorme lençol de petró­leo subterrâneo, na camada pré-sal, que pode multiplicar nossas atuais reservas petrolíferas por 10. Ao mesmo tempo, é uma referência no desenvolvimento dos biocombustíveis, em alta no mercado mundial exatamente por ser uma alter­nativa menos poluente e renovável ao petróleo e seus derivados.
ALTERNATIVAS
ALTERNATIVAS É preciso ampliar o uso de energias renováveis, como a da água, a dos ventos e a solar. Nos transportes, po­dem-se usar álcool e biodiesel, que poluem menos do que o petróleo e são renováveis. No setor elétrico, é possível substituir as usinas térmicas pelas nucleares. BIOCOMBUSTÍVEIS É o combustível obtido de matérias-primas vegetais, como o álcool (etanol) da cana-de-açú­car e do milho, e o biodiesel, extraído de plantas oleaginosas como a soja, o dendê, o babaçu e o algodão. MONOCULTURA O etanol brasileiro ba­seia-se na cana-de-açúcar, produzida em regime de monocultura, ou seja, grandes propriedades com uma única lavoura. Esse modelo envolve vários problemas, incluindo a redução da biodiversidade e o uso de pouca mão de obra.